quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tragédia: A difícil tarefa de achar explicação no inteligível

A palavra tragédia vem do grego antigo e frequentemente remete a um drama, um conflito em quem uma personagem se depara com algum poder maior, como o destino, a sociedade, a lei ou os deuses. Na maior tragédia da Educação brasileira, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, foi a personagem. O cenário: a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro.

Permanecem desconhecidos seus conflitos internos e o que o levou a disparar mais de cem tiros em duas salas do colégio, resultando no assassinato brutal de dez meninas e dois meninos, que tinham entre 12 e 14 anos. No dia 13, cinco alunos permaneciam internados em hospitais da capital fluminense, sendo um em estado grave.

Wellington de Oliveira precisou não mais do que quinze minutos para realizar seu massacre no último dia 7 de abril. As investigações policiais apontam que o ex-estudante da Escola Tasso da Silveira premeditou sua tragédia – inclusive o suicídio.

Há tragédias que são inteligíveis. Algumas podem ser compreendidas. Outras servem para nos ensinar algo. Neste último caso podemos encaixar as bombas atômicas da 2ª Grande Guerra, os terríveis terremotos e tsunamis e os acidentes nucleares.

Mas o que ocorreu em Realengo pode não encontrar explicação. Talvez lembrar que o atirador foi vítima de bullying (algo que ele mesmo confessou em cartas e vídeos) explique seus problemas psicológicos. O fato de ser órfão duas vezes – das mães biológica e adotiva –, idem.

Nenhuma discussão vai trazer de volta as vidas das doze vítimas. Porém, a sociedade pode voltar o debate para a ilegalidade do porte, lembrando que Wellington de Oliveira entrou na escola com duas armas, sem ter autorização para o uso e muito menos dificuldade para comprá-las. O mais grave é constatar que a presença de armas de fogo nas escolas faz parte do cotidiano das instituições brasileiras. Foi o que responderam diretores de 1.427 unidades públicas na Prova Brasil de 2007. Ou seja, quatro anos antes das mortes de Realengo.

Quantas escolas país afora não vivem esse mesmo quadro? Quantos professores brasileiros permanecem intimidados por alunos armados? Especialistas acreditam que a violência mais grave ocorre dentro das próprias escolas, onde alunos, professores e outros membros da comunidade escolar agem com falta de respeito e preconceito, acrescidos de homofobia, transformando o lugar da Educação no ambiente que reproduz a violência que vem da sociedade.

A mesma sociedade que pode tirar uma lição da tragédia. E a mais imediata pode ser a retomada da campanha pelo desarmamento, conforme posicionamento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Um pai e uma mãe estarão muito mais tranqüilos em imaginar que seus filhos voltarão para casa, em uma sociedade onde o porte de arma for severamente fiscalizado ou punido nas irregularidades. Somente a incerteza sobre a segurança de nossas crianças justificaria as 12 mortes em Realengo. Porém, nem isso pode ser explicado. Procurar explicações em tragédias significa muito mais desrespeito às vítimas do que o nosso papel de tentar melhorar e evitar que acontecimentos parecidos se repitam.

Pablo Pacheco, jornalista (texto publicado na edição nº89 da Revista Point)

Um comentário:

  1. Pessoas matam, armas não.

    Armas de fogo só são utilizadas por questão de "praticidade".Se o intuito é tirar a vida de outra pessoa, qualquer coisa na mão de um possível assassino pode se tornar uma arma.
    Uma caneta, um fio de telefone, uma sacolinha plástica, soda cáustica. Coisas que são de venda livre e facilmente encontradas em qualquer supermercado.
    O desarmamento não é a solução, é só paliativo.

    ResponderExcluir